Em setembro de 94, mais de 200 anos após sua morte, Tiradentes foi reabilitado em Portugal como herói, numa cerimônia que contou com a presença do presidente Mário Soares e organizada pelo então embaixador brasileiro naquele país, José Aparecido de Oliveira.
Mas, afinal, seria Tiradentes realmente um grande herói? E o que é um herói? Seria a história feita apenas por heróis? Bertolt Brecht, no poema "Perguntas de um operário que lê", encoraja-nos a refletir sobre essa questão, mas para o pesquisador gaúcho Sérgio Faraco, Tiradentes nem herói foi. Faraco publicou, em 1990, pela Vozes "O Processo dos Inconfidentes - Verdade ou Versão", onde faz uma minunciosa investigação nos Autos de Devassa e derruba o mito do nosso herói.
A maioria dos autores, porém, segue uma concepção posotivista, enaltecedora. Uma das raras exceções é o norte-americano Kenneth Maxwell, autor da "Devassa da Devassa" lançada no Brasil em 1977 pela Paz e Terra.
Na verdade, Tiradentes como o conhecemos, foi uma criação dos republicanos no final do século XIX: um herói de olhar penetrante, patriota, incapaz de delatar os companheiros, puro e lembrando Jesus Cristo. O certo é que Tiradentes era um cidadão falido, semiletrado, sem crédito na praça, com mau conceito entre a população, de moral, portanto, abalada e tratado por vários apelidos: "gramaticão" (pois só andava com um dicionário de francês debaixo do braço), "mazombo" e "repúblico". Tentou várias profissões na vida. Foi mascate, garimpeiro, militar, tropeiro, caçador de bandidos...
(Continua...)
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